O que é tempo? Um rio ondulante que carrega todos os nossos sonhos? Ou os trilhos de um trem? Talvez ele tenha curvas e desvios, permitindo que você possa continuar seguindo em frente e, ainda assim, retornar a uma estação anterior da linha.
O escritor do século XIX Charles Lamb escreveu: "Nada me intriga tanto como o tempo e o espaço. E nada me preocupa menos do que o tempo e espaço, porque nunca penso neles". (...)
Isaac Newton nos deu o primeiro modelo matemático para o tempo e espaço em seu Principia mathematica, publicado em 1687. (...) No modelo de Newton, tempo e espaço constituíam um pano de fundo em que os eventos ocorriam mas não eram afetados por eles. O tempo era distinto do espaço e considerado uma linha única, ou trilho de trem, infinito em ambas as direções. O próprio tempo era considerado eterno, no sentido de que sempre tinha existido e de que existiria para sempre. Em contraposição, a maioria das pessoas acreditava que o universo físico tinha sido criado mais ou menos no estado atual apenas alguns milhares de anos atrás. Isso preocupou filósofos como o alemão Immanuel Kant. Se o universo foi realmente criado, por que tinha havido uma espera infinita antes da criação? Por outro lado, se o universo sempre tinha existido, por que tudo que ia acontecer já não tinha acontecido, de modo que a História tivesse terminado? Em especial, por que o universo não tinha atingido o equilíbrio térmico, com tudo à mesma temperatura?
Kant denominou esse problema uma "antinomia da razão pura", por parecer uma contradição lógica; não tinha solução. Mas era uma contradição somente no contexto do modelo matemático newtoniano, no qual o tempo era uma linha infinita, independente do que estivesse acontecendo no universo.
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Trecho do livro O Universo numa Casca de Noz, de Stephen Hawking.